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No post anterior, entendemos um pouco mais sobre a importância da colaboração para o sucesso dos negócios. Porém, não vai existir uma colaboração bem-sucedida se não entendermos os 4 elementos-chave da colaboração: comunicação, coordenação, memória e percepção (ARAUJO e BORGES, 2007, MAGDALENO, 2013). Estes aspectos ajudam a caracterizar as interações e a cooperação em um grupo.
Para colaborar, os indivíduos têm que trocar informações (comunicação), além disso, organizar-se (coordenação) e, por conseguinte, operar em conjunto em um espaço de trabalho coletivo (memória). Através da percepção, o indivíduo se informa sobre o que está acontecendo e, assim, adquire as informações necessárias para o seu trabalho. Estes aspectos não podem ser considerados isoladamente, pois se encontram intimamente dependentes e, portanto, relacionados entre si.
Comunicação
O primeiro obstáculo à colaboração ou cooperação é vencer a distância entre os membros do grupo, ou seja, estabelecer a comunicação entre as partes envolvidas para que elas possam obter sucesso ao trabalhar em equipe ou formar uma rede de colaboração. A comunicação compreende o intercâmbio de informações entre pelo menos dois indivíduos, com a compreensão da mesma pelos envolvidos. A comunicação apoia a criação de um entendimento comum e compartilhado. Os membros de um grupo precisam se comunicar regularmente para organizar o trabalho, negociar, designar tarefas, tomar decisões, firmar compromissos e resolver problemas.
Dentro de um grupo, os membros podem se comunicar de forma síncrona, em tempo real, ou de forma assíncrona, em momentos diferentes. Na comunicação síncrona (como em chats e mensagens), os interlocutores estão presentes simultaneamente e disponíveis, recebendo a mensagem imediatamente. Na comunicação assíncrona (como em e-mails e fóruns), o tempo é mais flexível, e a mensagem pode ser recebida em um momento posterior indeterminado.
Normalmente, as pessoas usam comunicação assíncrona quando desejam valorizar a reflexão dos participantes, pois isso lhes dá mais tempo antes de agir. Já na comunicação síncrona, valoriza-se a velocidade da interação, visto que o tempo de resposta entre a ação de um participante e a reação de seus companheiros é curto.
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Coordenação
Para o trabalho em grupo, é essencial um esforço adicional na coordenação dos membros e suas atividades. Isso implica em uma articulação cuidadosa para alcançar a colaboração a partir da integração dos esforços individuais. A coordenação entre as atividades do grupo é crucial para evitar interferências entre elas, uma vez que há interdependências a serem consideradas (HAINES e VEHRING, 2012).
Além disso, a coordenação desempenha o papel de organizar o grupo, garantindo que a comunicação seja eficaz e que as tarefas sejam realizadas conforme planejado, respeitando prazos e objetivos. Isso é fundamental para evitar conflitos ou redundâncias nas atividades dos participantes. Ademais, a coordenação busca manter a dinâmica do grupo, incentivando as contribuições individuais, planejando eventos, tomando decisões e estabelecendo um ritmo para os trabalhos e encontros.
Memória de grupo
Comunicação e coordenação, apesar de vitais, não são suficientes para a colaboração. Os grupos também precisam produzir, manipular, organizar e compartilhar diferentes tipos de informação relacionada às atividades sendo realizadas. A memória de grupo é o armazenamento dos dados relativos ao desenvolvimento da atividade colaborativa.
Além de construir e refinar artefatos, os participantes também compartilham reflexões sobre o trabalho sendo produzido. Assim, é importante preservar não só o conhecimento formal ou explícito (embutido no histórico e organização dos artefatos) como também o conhecimento informal ou tácito sobre a criação dos produtos, as ideias, fatos, questões, pontos de vista, conversas, discussões e decisões que aconteceram no decorrer do trabalho. Ainda que este conhecimento tácito seja mais difícil de ser capturado, é ele que permite recuperar o histórico da discussão e o contexto em que as decisões foram tomadas (NONAKA e TAKEUCHI, 1995).
Percepção
O fenômeno de criação em grupo se dá progressivamente através da geração de novas ideias baseadas nas contribuições já elaboradas pelo grupo. Perceber e entender as atividades realizadas por outros participantes são requisitos fundamentais para que haja comunicação e interação em um grupo em direção a um objetivo comum. A percepção (ou awareness) é o “entendimento das atividades dos outros para fornecer contexto a sua própria atividade” (DOURISH e BELLOTTI, 1992). A percepção denota as práticas pelas quais os atores, de forma tácita e não intrusiva, alinham e integram as suas atividades (SCHMIDT, 2002).
Manter a percepção é considerado um fator crítico para garantir que os membros da equipe sejam capazes de coordenar os seus esforços (DOURISH e BELLOTTI, 1992, HAINES e VEHRING, 2012). A percepção compreende as informações que os membros do grupo mantêm uns a respeito dos outros, sobre as atividades e os artefatos do esforço colaborativo compartilhado (SCHMIDT, 2002). Por exemplo, através da percepção, os indivíduos podem tomar ciência do papel de cada um dentro do grupo, do que fazer, como proceder, qual o resultado das suas ações, até onde atuar, presença ou status dos membros do grupo, possíveis conflitos entre os membros do grupo, quais as modificações realizadas em um artefato, como estão os recursos compartilhados pelo grupo e etc (GUTWIN e GREENBERG, 1999, OMORONYIA et al., 2010, STEINMACHER et al., 2012).
Contribuições e Resultados no Contexto da Percepção
Cada membro deve conhecer o progresso do trabalho dos companheiros e dar visibilidade das suas próprias ações. Portanto, é essencial comunicar o que foi feito, como foi feito e o que falta para o término, além de apresentar quais são os resultados preliminares, entre outros aspectos relevantes. A percepção das contribuições e dos resultados gerados pelas atividades alheias ajuda os membros do grupo a oferecer contribuições com maior segurança quanto à necessidade e relevância para o produto comum (ARAUJO e BORGES, 2007, DOURISH e BELLOTTI, 1992). Além disso, quando os membros não têm conhecimento sobre o que está sendo desenvolvido pelos outros, o trabalho resultante pode não apresentar coesão e não representar as ideias do grupo como um todo.
Conclusão
Apesar da sua importância, uma colaboração efetiva ainda é um desafio significativo. Por conseguinte, as organizações ainda têm dificuldades em planejar e explicitar claramente como desejam que a colaboração aconteça no seu dia-a-dia de trabalho. Além disso, tornar este planejamento da colaboração visível para todos os seus membros é essencial para garantir a sua eficácia e aceitação generalizada.
Para estimular a colaboração, é preciso investir nos 4 elementos-chave do trabalho em equipe:
1. Comunicação (trocas de informações);
2. Coordenação (organização do grupo);
3. Memória (compartilhamento de diferentes informações relacionada a uma atividade);
4. Percepção (adquirir conhecimentos por meio dos sentidos).
Referências:
ARAUJO, R. M. DE; BORGES, M. R. S., 2007, “The role of collaborative support to promote participation and commitment in software development teams“, Software Process: Improvement and Practice, v. 12, n. 3, pp. 229–246.
DOURISH, P.; BELLOTTI, V., 1992, “Awareness and coordination in shared workspaces“. In: Conference on Computer Supported Cooperative Work (CSCW), pp. 107–114, Toronto, Ontario, Canada.
GUTWIN, C.; GREENBERG, S., 1999, “A framework of awareness for small groups in shared-workspace groupware“, Technical Report 99-1, Department of Computer Science, University of Saskatchewan.
HAINES, R.; VEHRING, N., 2012, “Increasing Team Coordination and Social Motivation Through Awareness Practices: A Case Study“. In: European Conference on Information Systems (ECIS), pp. 1–12, Barcelona, Spain.
MAGDALENO, A. M., 2013, COMPOOTIM: Em Direção ao Planejamento, Acompanhamento e Otimização da Colaboração na Definição de Processos de Software. Tese de Doutorado, COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
NONAKA, I.; TAKEUCHI, H., 1995, The Knowledge-Creating Company: How Japanese Companies Create the Dynamics of Innovation. Oxford University Press, USA.
OMORONYIA, I.; FERGUSON, J.; ROPER, M.; et al., 2010, “A review of awareness in distributed collaborative software engineering“, Software: Practice and Experience, v. 40, n. 12, pp. 1107–1133.
SCHMIDT, K., 2002, “The Problem with “Awareness”: Introductory Remarks on “Awareness in CSCW””, Computer Supported Cooperative Work (CSCW), v. 11, n. 3 (Nov.), pp. 285–298.
STEINMACHER, I.; CHAVES, A. P.; GEROSA, M. A., 2012, “Awareness Support in Distributed Software Development: A Systematic Review and Mapping of the Literature“, Journal of Computer Supported Cooperative Work (JCSCW), pp. 1–40.
Publicado por: Andréa Magalhães
CEO e Fundadora da dheka – Especialista em BPM – Professora e Pesquisadora
Atuou durante 7 anos como professora do Instituto de Computação (IC) da Universidade Federal Fluminense (UFF). Atuou como pós-doutora e pesquisadora pela COPPE/UFRJ em 2014 e na UNIRIO em 2015. Concluiu seu doutorado em Engenharia de Software com foco em Processos e Colaboração pela COPPE/UFRJ em 2013.
Experiência de participação em projetos de consultoria para diferentes empresas, como B3, Marinha, Petros, Vale, TIM, Petrobras, SENAI-CETIQT, Shell, Arquivo Nacional e Mongeral Aegon. Atua há 20 anos nas áreas de Gestão de Processos de Negócio (BPM), Gerência de Projetos e Requisitos. Atuou durante 2,5 anos como Gerente na Ernst Young (EY). Certified Business Process Professional (CBPP).
Também ministra cursos de pós-graduação e extensão, orienta alunos e possui trabalhos publicados em congressos e revistas nacionais e internacionais.
Como Expert Digital, mantém o canal do Youtube da dheka, os podcasts do canal dhekaCast no Spotify, Deezer e Apple Podcast, contribui com publicações para o blog da dheka e atua como Palestrante e Mentora.