No mundo complexo dos negócios, onde desafios inesperados e oportunidades excitantes se entrelaçam, sinto que temos um contexto perfeito para uma reinterpretação livre da “Jornada da Heroína” e suas etapas (se você ainda não conhece este livro, recomendo MUITO!). A Jornada da Heroína é uma narrativa que espelha a jornada interior e exterior da mulher em busca de autodescoberta, empoderamento e transformação. Assim é a trajetória de vida de muitas de nós, mulheres que precisam encontrar o caminho de volta para o nosso feminino sábio e sagrado.

Imagine a Jornada da Heroína, com seus altos e baixos, momentos desafiadores e emocionantes, agora, sendo estendida para o ambiente corporativo. Este é o ponto de partida para explorar a fascinante convergência da “Jornada da Heroína” com a gestão de processos de negócio (BPM – Business Process Management).

Neste post, vamos mergulhar mais a fundo em algumas etapas da jornada, de forma simplificada. Enquanto entrelaçamos exemplos e insights, vamos trilhar um caminho inspirador para mulheres líderes que desejam enfrentar os desafios da área de BPM com confiança e determinação. Ao mesmo tempo, acolhem por completo sua natureza feminina em busca da totalidade e integração.

Sim, eu também poderia ter escolhido me basear na “Jornada do Herói” concebida por Joseph Campbell e que, de certa forma, foi inspiração e pano de fundo para a Jornada da Heroína. Porém, este olhar masculino já foi amplamente difundido nos livros e filmes em muitas narrativas ao redor do mundo. Por outro lado, para mim, tem feito mais sentido nos últimos anos investir nesse resgate do feminino (tanto na minha vida pessoal quanto no nosso universo de trabalho corporativo) e enfatizar elementos como colaboração, intuição e resiliência. Esta também é uma forma de aproximar cada vez mais as nossas BPM Girls

Prontos(as) para iniciar esse Jornada? Então, vamos lá!

1. Chamado à Aventura: Identificando Oportunidades de Mudanças

Toda heroína começa sua jornada com um chamado à aventura, um momento em que a protagonista é desafiada a abandonar a zona de conforto e embarcar em uma busca pela excelência. Este momento pode ser um convite para liderar um Escritório de Processos ou conduzir um projeto de BPM de grande porte na empresa.

Quando esta oportunidade se apresenta, a líder pode ter um início meio atabalhoado. Ela pode ser levada a acreditar que para ser bem-sucedida precisa romper com tudo que lhe é familiar para explorar novos territórios. Ela faz esse movimento de um lugar de desconexão do masculino (em quem ela não quer mais se espelhar), mas de separação também do feminino (com quem ainda não conseguiu se conectar e integrar na totalidade).

Pressionada, nesse início da jornada, nossa heroína adota uma falsa postura de superioridade, tentando provar que ela é melhor do que os demais e vivenciando uma situação de medo e ansiedade por estar sozinha nesta empreitada. Desta forma, muitas vezes se sente sobrecarregada, pois não se permite relaxar já que não pode falhar e perder essa chance. Assim, vai sacrificar a própria saúde e bem-estar ao começar a desenvolver uma posição de autoridade e não de liderança.

A Jornada da Heroína nos Processos de Negócio: Desbravando Desafios Corporativos com Sabedoria Feminina

Na gestão de processos, essa etapa corresponde à identificação da necessidade de mudanças. Como líderes de processos, somos convocadas a identificar pontos de fricção, ineficiências e áreas suscetíveis a erros. Porém, a heroína no início da jornada reconhece os desafios nos processos existentes e se distancia das abordagens, metodologias e técnicas tradicionais para resolver o problema sozinha e do seu jeito. 

Exemplo

Só para ilustrar, considere uma Gerente de Operações diante de um processo de produção ineficiente. Neste estágio inicial, ela pode querer jogar fora este processo e começar um novo do zero. Esta abordagem totalmente radical (típica da antiga Reengenharia de Processos) pode fazer com que ela se isole na empresa, ignore os saberes existentes dentro do seu time, não procure ou aceite ajuda de ninguém e empregue estratégias da competição. Dessa forma, sem perceber, ela caminha a passos largos direto para o abismo. Este abismo terá que ser superado mais tarde na Jornada.

Sem a sua sabedoria feminina, nossa protagonista subestimou aspectos importantes: a habilidade de ouvir os mais experientes, pedir ajuda, captar detalhes e sutilezas e reconhecer padrões. E agora? Como a nossa heroína vai sair dessa?

2. Conquista de Aliados: Buscando o Coletivo

Ambiciosa, a nossa heroína busca aprovação e poder. Para avançar em direção aos seus objetivos, chega a fase de buscar apoio e parcerias. Brilhante, mas sem empatia e compaixão ainda, na gestão de processos, nossa heroína vai tentar unir forças com colegas para implementar as mudanças necessárias ou automatizar os processos. Por exemplo, a área de Comunicação pode contribuir muito com as ações de gestão da mudança e a área de TI é um personagem importantíssimo na automação de processos.

Ainda carregando o grande peso da sua armadura, nossa heroína está se distanciando da sua própria criatividade e das relações saudáveis. Ela acaba sendo vítima da sua própria tirania interna. Nada do que ela faz é bom o suficiente. Tudo precisa ser melhor ou mais rápido. Esse perfeccionismo acaba prejudicando os relacionamentos recém estabelecidos e aumentando ainda mais o seu isolamento.

A Jornada da Heroína nos Processos de Negócio: Desbravando Desafios Corporativos com Sabedoria Feminina

Sem ter em quem confiar verdadeiramente, para sair dessa situação, ela finalmente toma consciência que precisa construir repensar a sua própria identidade e buscar ajuda de instâncias superiores. Descobrir os seus pontos fortes e suas habilidades para superar os seus pontos fracos. Agora começa a sua verdadeira história. O que vem pela frente? Quem poderá ajudá-la? Será que os antigos aliados se perdem no caminho?

3. Encontro com Mentores(as): Aprendendo

Quando a aluna está pronta, o(a) mestre aparece! Não é o que dizem? 

Na jornada da heroína, os(as) mentores(as) desempenham um papel vital ao fornecer orientação e conhecimento. Analogamente, no ambiente corporativo, mentores(as) experientes pode iluminar o caminho da melhoria e transformação de processos. Através de colaborações e compartilhamento de conhecimento, é possível aprender com as experiências de outros, evitando armadilhas e acelerando o progresso.

O encontro com mentores(as) é um momento transformador. Empoderar-se com a sua sabedoria pode lançar luz sobre o caminho a seguir para enfrentar os desafios que se apresentam e o que ainda estão por vir.

A Jornada da Heroína nos Processos de Negócio: Desbravando Desafios Corporativos com Sabedoria Feminina

Aqui, a sabedoria feminina entra em cena. A habilidade de cultivar relacionamentos significativos, ouvir com empatia e colaborar de forma construtiva são aspectos fundamentais da liderança feminina. Ao adotar essas qualidades, a protagonista da nossa narrativa corporativa pode começar a decolar seu crescimento profissional.

Não faltam exemplos de sucesso de mentorias entre mulheres no ambiente corporativo. Sheryl Sandberg, COO do Facebook, é uma defensora da igualdade de gênero e do empoderamento das mulheres no local de trabalho. Ela encontrou mentoria em Gloria Steinem, uma renomada feminista e ativista pelos direitos das mulheres. A relação entre elas exemplifica como mulheres de diferentes gerações podem compartilhar sabedoria e apoio mútuo.

A apresentadora de TV e empresária Oprah Winfrey teve uma profunda relação de mentoria com a poeta e autora Maya Angelou. Angelou foi uma mentora e amiga íntima de Oprah, oferecendo orientação espiritual e encorajamento ao longo de suas carreiras.

E você? Quem é a mentora que vai te elevar ao próximo nível da sua carreira na área de BPM?

4. Desafios e Provas: Ogros e Dragões

Lógico que nenhum conto heróico estaria completo sem desafios e provas. Tudo que nossa heroína aprendeu até aqui será posto à prova.

Ogros aparecerão no caminho para testar sua resistência, determinação e sua capacidade de estabelecer limites. Suas dúvidas se expressarão através de dragões cuspindo pensamentos como “eu não sou capaz” ou “eu sou uma fraude”. Síndrome da impostora? Temos! Portanto, compreende-se que é preciso ter paciência com seu processo de crescimento para vencer estes monstros.

A Jornada da Heroína nos Processos de Negócio: Desbravando Desafios Corporativos com Sabedoria Feminina

A heroína enfrenta desafios e provas em sua jornada, e no mundo corporativo não é diferente. Quando se trata de implementar mudanças nos processos de negócio, líderes muitas vezes enfrentam resistência à mudança, falta de recursos e obstáculos inesperados. 

Esses desafios podem testar nossa resiliência e criatividade. No entanto, assim como a heroína enfrenta adversidades com determinação, as líderes de processos podem se valer de sua determinação e coragem para superar os obstáculos e vencer as batalhas.

No decorrer desses desafios, a sabedoria feminina brilha, demonstrando em sua abordagem colaborativa e sua capacidade de manter uma perspectiva abrangente. A liderança feminina muitas vezes enfatiza a importância de trabalhar em equipe, cultivar relações e encontrar soluções criativas.

5. Recompensa: Colhendo os Frutos da Otimização

Depois de superar os desafios, a heroína começa a ser recompensada. Os frutos iniciais podem ser somente a dádiva ilusória do sucesso que reflete a sensação inicial de progresso e conquista. 

Na gestão de processos, isso corresponde aos primeiros sinais de melhoria. Todavia, a mulher líder, com sua intuição afiada, reconhece a importância de manter um olhar crítico, evitando a complacência diante destes resultados iniciais. Ela sente que não pode se acomodar na falsa sensação de jogo ganho.

Nossa líder permanece atenta à necessidade de avaliar o progresso e identificar áreas que requerem mais atenção. Esta líder, conectada com sua intuição, reconhece que o ciclo de melhoria é contínuo. Assim, recorre à exploração de técnicas e ferramentas inovadoras visando integração.

Finalmente, os resultados chegam. Nos processos de negócio, a recompensa pode ser percebida como aumento de eficiência, redução de custos ou aprimoramento da qualidade. Esses resultados tangíveis não só validam os esforços empreendidos, mas também energizam a equipe e reforçam a importância da jornada.

A Jornada da Heroína nos Processos de Negócio: Desbravando Desafios Corporativos com Sabedoria Feminina

A sabedoria feminina, com seu foco na compreensão das necessidades individuais e da equipe, contribui para a criação de um ambiente onde o reconhecimento e a celebração são valorizados e compartilhados. As líderes que aplicam essa abordagem não apenas colhem os benefícios financeiros da otimização de processos, mas também cultivam um ambiente de trabalho inspirador e motivador.

6. Retorno Transformado: Impactando a Cultura Corporativa

Ao retornar de sua jornada, a heroína traz consigo uma transformação interna. Ela já aprendeu a importância da integração (dentro dela, na sua equipe e nos processos da empresa), de nutrir a colaboração e a conexão entre os membros da equipe e com seus parceiros e aliados. Mais do que isso, já consegue reconhecer e valorizar a diversidade de perspectivas e estilos de liderança, inclusive as suas.

Da mesma forma, a melhoria de processos tem o poder de transformar a organização, não apenas em termos de eficiência, mas também na cultura corporativa. A implementação bem-sucedida de mudanças pode criar um ambiente mais favorável ao BPM. A liderança feminina traz uma abordagem única para esse estágio, valorizando a inclusão, o respeito e a diversidade de perspectivas, onde a inovação e o aprendizado contínuo são valorizados.

A capacidade de ouvir e valorizar as vozes de todos os membros da equipe, independentemente de sua posição hierárquica, é um pilar da sabedoria feminina. Líderes empoderadas criam um ambiente onde a criatividade floresce e onde todos se sentem motivados a contribuir para o sucesso da organização.

7. Compartilhando a Jornada: Inspirando e Orientando Outros

Um aspecto essencial da jornada da heroína é o compartilhamento de sua experiência para inspirar e orientar outras (como nas entrevistas do BPM Girls, que você não pode deixar de conferir). No contexto da gestão de processos, essa etapa é igualmente importante. Ao compartilhar os sucessos, desafios e lições aprendidas, as líderes de processos podem criar um ciclo virtuoso de melhoria contínua e inovação dentro e fora da organização. 

Então, a sabedoria feminina entra em cena aqui com sua ênfase na construção de relacionamentos e na promoção da colaboração. Com essa mentalidade, líderes abraçam uma cultura onde as vozes de todos são ouvidas, onde a diversidade de pensamento é valorizada e onde a busca constante por melhoria é incentivada. Essa abordagem única pode catalisar a inovação, criar culturas de trabalho mais saudáveis e inspirar equipes a alcançar resultados extraordinários.

Conclusão

A jornada da heroína transcende as páginas dos contos de fadas e encontra ressonância no mundo corporativo. As etapas dessa jornada, desde o chamado à aventura até o compartilhamento da experiência, oferecem um modelo rico para guiar líderes e profissionais de gestão de processos em sua busca por eficiência e excelência. Além disso, destaco que a sabedoria feminina, a intuição e a resiliência são qualidades intrínsecas à jornada da heroína que podem ser habilmente aplicadas para conduzir mudanças positivas nos processos de negócio.

A intuição desempenha um papel vital na identificação de oportunidades e na tomada de decisões complexas. Dessa forma, é fundamental reconhecer que as mulheres líderes podem confiar em sua intuição para navegar por ambientes de negócios dinâmicos, permitindo que tomem decisões mais alinhadas com os objetivos da organização.

A resiliência, outra qualidade inata das mulheres líderes, permite enfrentar os desafios com determinação e coragem. Com isso em mente, é crucial perceber que as líderes que praticam a resiliência podem superar obstáculos, manter-se motivadas e inspirar suas equipes a persistirem diante da adversidade.

Portanto, deixo este convite para todas as mulheres líderes abraçarem a jornada da heroína nos processos de negócio, confiantes de que suas qualidades únicas e sabedoria feminina as capacitarão a superar obstáculos, criar culturas de trabalho vibrantes e moldar um futuro empresarial extraordinário. Eu espero que este post tenha ampliado a forma como você enxergava o seu trabalho na área de gestão de processos. Seguiremos debatendo este assunto lá no Instagram da dheka

Referências Bibliográficas

ESTÉS, C. P. (2018). “Mulheres que correm com os lobos: Mitos e histórias do arquétipo da Mulher Selvagem“. Rocco.

ESTÉS, C. P. (2007). “A ciranda das mulheres sábias: Ser jovem enquanto velha, velha enquanto jovem“. Rio de Janeiro, RJ: Rocco.

MURDOCK. M. (2022). “A jornada da heroína: A busca da mulher para se reconectar com o feminino“. Editora Sextante.

SANDBERG, S. (2013). “Faça acontecer“. Companhia das Letras.