Introdução: Medicina dos Processos

Olá BPM Friend,

O post de blog de hoje é diferente. Ele é uma retomada de uma escrita livre e reflexiva para mim, mas não necessariamente técnica, bibliográfica e científica. Eu ouso dizer que ele é algo que transbordou de mim por vontade própria e de forma incontrolável, apesar de eu ter tentado mantê-lo incubado.

Talvez, este texto seja um chamado para quem se identifica com esta visão de processos como algo muito mais amplo e profundo. Talvez, ele ajude a entender porque temos tantos fãs e pessoas apaixonadas por processos. Você já pensou que, ao trabalhar com BPM, você pode estar dando uma contribuição muito maior do que tinha se dado conta

Se isso não fizer o menor sentido para você, sinta-se totalmente livre para pular esta leitura. Eu não vou ficar chateada com você por isso. Prometo!

A origem

Se você decidiu seguir adiante nesta leitura, eu quero começar com uma história que explica de onde eu tirei essa ideia da Medicina dos Processos, já que essa palavra “medicina” aqui pode parecer meio fora de contexto para alguns.

Eu tenho uma coaching que eu acompanho pelo Instagram, cursos e livros há anos chamada Paula Abreu. No livro “Só Cai quem Voa” e em alguns dos seus vídeos e podcasts, ela apresenta a ideia de que cada um de nós tem a sua própria medicina. Alguma propriedade ou capacidade que trazemos para compartilhar com o mundo.

Em um primeiro momento, eu entendi que ela estava se referindo aos profissionais que trabalham com cura: não só os médicos(as) e enfermeiros(as), mas também diversos outros profissionais que atuam de uma forma mais ampla e holística através de terapias, yoga, homeopatia, aromaterapia, acupuntura, massagem e etc. Sendo eu alguém que já experimentou e até hoje usa todos estes dons de profissionais maravilhosos(as), era muito fácil entender o poder de cura deles.

Só que aí ela foi mais fundo e disse com todas as letras: TODOS nós temos as nossas próprias medicinas.

Pronto! Agora complicou. Isso deu um nó na minha cabeça, porque eu sempre me considerei uma pessoa das exatas, da computação, do mental, lógico e racional, sem nenhuma habilidade manual ou dom sobrenatural. 

Então, como assim, eu tenho uma medicina? Que medicina seria essa?

O paciente: Quem são os Meus Pacientes?

Se pensarmos que o objetivo da medicina é “prevenir e combater doenças, manter a qualidade de vida e promover o bem-estar, seja ele individual ou coletivo”, também temos que nos perguntar: quem seriam os meus pacientes? Com quem eu estava contribuindo de forma individual ou coletiva?

Eu te incentivo a buscar as suas próprias respostas para essas perguntas, mas a resposta que eu encontrei foi: no individual com os profissionais de processos e no coletivo com as empresas.

A cada vez que eu compartilho um conteúdo aqui no blog, nas redes sociais da dheka, um vídeo no nosso Youtube ou um podcast, estou colocando a minha medicina de processos a serviço dos profissionais de processos. Esses profissionais buscam conhecimento para começar uma carreira em BPM, conquistar um novo cargo na área, trocar de profissão, se lançar no mercado como consultores e etc.

Ao longo dos meus 20 anos de estrada, posso dizer que o BPM se torna tão impactante na vida desses profissionais que eles passam a enxergar processos em todos os cantos, a aplicar os conceitos de BPM em suas vidas pessoais e a estar sempre atentos a possíveis melhorias de processos. Uma vez tocados pelo BPM, eles não conseguem mais deixar de ter a visão sistêmica.

Por outro lado, também é muito fácil reconhecermos como é possível curar as empresas através dos seus processos. Podemos enxergar os processos nas empresas como um conjunto de “sintomas” que precisam ser tratados para alcançar uma saúde organizacional ideal. Assim como um paciente busca a cura para seus problemas de saúde, uma empresa busca a melhoria de seus processos para alcançar melhores resultados.

Da mesma forma que um paciente se submete a exames e diagnósticos para identificar a causa de seus sintomas, uma empresa pode utilizar técnicas de mapeamento e análise de processos para identificar gargalos, ineficiências e oportunidades de melhoria. Essa etapa é essencial para compreender quais áreas (ou órgãos) da empresa precisam ser tratadas e curadas.

Quer ver a pura medicina dos processos em ação?

A cada vez que, aqui na dheka, tiramos um processo das sombras e damos visibilidade a ele através do seu modelo de processos. Ou ainda quando analisamos e melhoramos um processo para aperfeiçoar o funcionamento da empresa.

Extrapolando, quando a gente melhora um processo organizacional, quem é transformado ou curado? Claro que a empresa se beneficia com a redução de custos e prazos e ganho de produtividade. 

No entanto, posso ir ainda mais longe: toda vez que eu curo uma empresa ou um pedacinho dela, eu estou contribuindo para beneficiar todos os profissionais que trabalham (direta ou indiretamente) com aquele processo na empresa, tornando a rotina de trabalho deles melhor. 

Também estou ajudando a melhorar a vida dos clientes e fornecedores daquela empresa. Dependendo da empresa e do processo em questão, esses clientes podem ser os cidadãos ou até a sociedade como um todo. Uau! Poderoso isso, né? 😳

O diagnóstico

Ok, Andréa, identificamos o paciente. Mas qual é a cura que eu pratico? Não consigo associar o meu trabalho como analista ou consultor de processos com medicina.

Bom, para começar, uma primeira pista é pensar que, assim como os médicos, o analista e o consultor de processos também precisam começar por onde? Justamente por um Diagnóstico!

Huummm… que “coincidência”, não é mesmo? Pois é, mas como eu não acredito em “coincidência”, vou me dar ao direito de chamá-la de sincronicidade daqui e diante, está bem? 

Essa sincronicidade me saltou aos olhos quando eu preparei a MasterClass Diagnóstico de Maturidade em BPM e elaborei um slide fazendo justamente uma analogia com o diagnóstico médico. 

Pronto! Lá veio a Paula Abreu me cutucando e sussurrando no meu ouvido: você não tem nenhuma medicina mesmo? Tem certeza?

O tratamento

Após o diagnóstico, vem a hora do tratamento. Apesar do corpo humano ser totalmente integrado, por ser um dos sistemas mais complexos da Natureza, em alguns casos, o tratamento se concentra em um órgão específico, e em outros, vai adotar uma abordagem mais integrada.

Traçando um paralelo com a área de BPM, também podemos perceber como ela é ampla. Os processos estão profundamente arraigados nas empresas e entremeados uns com os outros, misturados com as estruturas organizacionais. Ao pensar na combinação entre pessoas, processos e tecnologia, temos também um sistema complexo que compõe o DNA das empresas.

pessoas processos e tecnologia dheka

A cura promovida pelos processos nas empresas pode ser percebida de diferentes maneiras. Podemos considerar a otimização dos processos como uma forma de eliminar ineficiências e retrabalho, reduzindo custos operacionais. Além disso, a melhoria dos processos pode aumentar a qualidade dos produtos ou serviços oferecidos, gerando maior satisfação dos clientes e fidelização.

Assim como a medicina visa restaurar a saúde do paciente para que ele possa desempenhar suas atividades normais, a otimização dos processos nas empresas visa eliminar obstáculos e gargalos que possam impedir a realização eficiente das tarefas. Isso pode levar a um aumento na produtividade e no desempenho geral da organização.

O acompanhamento

Uma vez que o tratamento é iniciado, tanto o paciente como a empresa exigem um acompanhamento contínuo. O paciente precisa seguir as recomendações médicas, fazer exames de acompanhamento e retornar periodicamente para que o médico possa ajustar o tratamento, se necessário. Alguma semelhança com a área de BPM aqui? Total!

Da mesma forma, a empresa deve monitorar regularmente seus processos, coletar dados sobre seu desempenho e rodar o Ciclo BPM de melhoria contínua. Assim como a medicina evolui constantemente com novas descobertas e abordagens, a gestão de processos também deve se manter atualizada e adaptar-se às mudanças do ambiente de negócios. Isso permite que as empresas se tornem mais ágeis, flexíveis e capazes de enfrentar os desafios do mercado.

O curador de Processos: Transformando o Papel do Analista

Outra pista que pode te ajudar a enxergar o potencial curador e medicinal do seu trabalho é pensar no seu papel e forma de atuação por outra perspectiva.

A visão da medicina de processos transforma a forma como enxergamos o papel do analista de processos, elevando-o de um mero executor de tarefas para um curador de processos nas empresas. Saímos da visão tradicional de execução operacional para uma atuação mais holística.

Assim como um médico trata um paciente, o analista de processos passa a ter a responsabilidade de diagnosticar os problemas organizacionais, identificar as causas subjacentes e propor soluções que levem à cura dos processos. Cabe ao curador de processos melhorar a saúde e o bem-estar organizacional.

Assim como um médico prescreve um tratamento personalizado para cada paciente, um analista/curador de processos pode projetar soluções específicas para as necessidades dos processos de cada empresa. Isso pode envolver a redefinição de fluxos de trabalho, a implementação de tecnologias adequadas ou a condução de treinamentos para os colaboradores.

Essa nova atuação como curador de processos implica em:

  • Diagnóstico: O analista de processos precisa ter uma compreensão profunda dos processos da empresa, identificando pontos fracos, gargalos e ineficiências que estão impactando negativamente o desempenho. Assim como um médico realiza exames para diagnosticar uma doença, o analista de processos utiliza técnicas de análise para identificar os problemas nos processos.
  • Tratamento: Com base no diagnóstico, o analista de processos propõe soluções para curar os processos afetados. Essas soluções podem envolver melhorias incrementais, redesenho completo de processos ou adoção de tecnologias inovadoras. Assim como um médico prescreve tratamentos específicos para curar um paciente, o analista de processos implementa as mudanças necessárias para melhorar a eficiência e a eficácia dos processos.
  • Monitoramento e acompanhamento: Assim como um médico monitora a evolução do paciente durante o tratamento, o analista de processos acompanha de perto a implementação das melhorias e monitora os resultados obtidos. Avalia se as soluções propostas estão realmente curando os processos, fazendo ajustes e refinamentos conforme necessário.

Afinal, faz sentido para você, BPM Friend, enxergar o seu trabalho desta forma? Eu estou realmente convencida de que é este “sacerdócio” de processos que desperta um amor tão profundo dos profissionais da área de BPM. Isso faz com que muitos consigam perceber, pelo menos intuitivamente, o sentido de realização profissional naquilo que fazem. 

Conclusão

Por fim, é óbvio que as empresas são muito mais do que apenas processos e que os processos sozinhos não resolvem todos os desafios ou problemas de saúde organizacionais. De forma análoga, a natureza orgânica e interconectada do corpo humano não impede as especializações médicas em partes ou órgãos específicos.

Por exemplo, o cardiologista é o profissional que cuida da saúde do coração, e o pneumologista, do pulmão. O neurologista se volta para o sistema nervoso central. O ortopedista foca nas estruturas que garantem o movimento e a locomoção. O endocrinologista é um profundo conhecedor das glândulas e dos hormônios no corpo humano. E por aí vai!

Da mesma forma, nós, analistas, profissionais ou consultores de processos optamos por nos especializar na gestão de processos, ainda que a gestão organizacional compreenda outras dimensões como a gestão estratégica, financeira, de recursos humanos e etc. 

Depois de tudo isso, BPM Friend, ainda parece loucura para você eu falar em medicina dos processos? Ou você também já está convencido de que pode compartilhar a sua medicina de processos com as empresas onde atua?

Eu espero que este post tenha mudado e ampliado definitivamente a forma como você enxergava o seu trabalho na área de gestão de processos. Certamente, seguiremos debatendo este assunto juntos lá no Instagram da dheka