No nosso primeiro post da série sobre Green BPM, explicamos por que os conceitos de gestão de processos de negócio (Business Process Management – BPM) e sustentabilidade estão relacionados ultimamente. Além disso, apresentamos a visão geral da abordagem de Green BPM da dheka. No post atual, vamos aprofundar o conceito de Green BPM ou BPM Verde e discutir algumas das propostas existentes na área. Portanto, vamos expandir nossa compreensão sobre como esses dois campos se entrelaçam e explorar as soluções sugeridas para promover uma gestão de processos mais ecoeficiente.

Entendendo brevemente a Sustentabilidade

O desenvolvimento sustentável é definido pela Comissão Mundial das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1987) como “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades“. Esta capacidade inclui a satisfação de três dimensões interdependentes: ambiental, social e econômica – os chamados três pilares da sustentabilidade. Portanto, é necessário integrar a justiça social, qualidade de vida, saúde e prosperidade, respeitando a capacidade da Terra para manter a vida (ISO/TMB, 2010).

As crescentes preocupações com a exploração dos recursos naturais para satisfazer as necessidades da população mundial crescente, levou a uma série de esforços globais para alcançar o desenvolvimento sustentável (GOODLAND, 2002). Parte desses esforços são liderados por organizações que, pressionadas pelas crescentes demandas da sociedade, passaram a incluir práticas sustentáveis em suas agendas estratégicas (SEIDEL et al., 2012).

Sustentabilidade e BPM

No projeto, implementação e execução de seus processos de negócios, as organizações tradicionalmente se concentram nas perspectivas de prazos, custos, eficiência e qualidade (SEIDEL et al., 2012). No entanto, com o crescente apelo da sustentabilidade, esses drivers clássicos estão cada vez mais sujeitos ao escrutínio crítico da sociedade. Portanto, isso levou a alguns esforços no sentido de incorporar a sustentabilidade em BPM.

No entanto, as abordagens existentes se concentram basicamente na dimensão ambiental da sustentabilidade (STOLZE et al., 2012). Assim, os trabalhos existentes, reunidos sob a nomenclatura de Green BPM, estão voltados para “a compreensão, documentação, modelagem, análise, simulação, execução e constante mudança de processos de negócio com vistas às consequências ambientais dos processos de negócio” (BROCKE et al., 2012).

O Green BPM se preocupa em analisar os processos de negócio, considerando, assim, o impacto ambiental que os produtos e serviços causam. A ideia é realizar a gestão de processos de maneira consciente, pensando, portanto, na otimização dos recursos nas atividades do processo, na diminuição do impacto ambiental. Além disso, visa-se à minimização do desperdício e à redução do consumo dos recursos não renováveis.

O que se fala sobre Green BPM

As discussões sobre Green BPM ainda estão em estágios iniciais; no entanto, existem até agora poucas propostas (HOUY et al., 2012; OPITZ et al., 2014). Além disso, um workshop dedicado ao tema, o 1st International Workshop on BPM and Sustainability – SusBPM 2010, foi realizado em conjunto com a Conferência Internacional de BPM (8th International Conference of Business Process Management – BPM 2010).

Uma primeira tentativa de aproximar os conceitos relativos à essas duas áreas temáticas pode ser vista no modelo conceitual abaixo (BETZ, 2014):

Processos e Sustentabilidade - Conceitos
Processos e Sustentabilidade – Conceitos

Padrões para Green BPM

Atualmente, é praticamente impossível pensar em um processo organizacional sem que esteja interagindo com algum aspecto relacionado à sustentabilidade. Nesse contexto, o Green BPM torna-se especialmente útil para empresas com consciência ambiental e que incentivam a sustentabilidade. Além disso, esse método pode ser aplicado a qualquer tipo de processo de negócio.

Alguns trabalhos propõem uma abordagem baseada em padrões para descrever soluções voltadas para a otimização do aspecto ecológico nos processos de negócio (NOWAK et al., 2011). Esses padrões, por sua vez, abordam o aprimoramento ou o redesign verde dos processos e se classificam em:

  • Básicos: padrões que englobam métodos de otimização verde dos processos que são usados sem modificar a estrutura dos processos de negócio. Exemplo: “Green Compensation” – quando o impacto ambiental de um processo não pode ser modificado rapidamente devido a aspectos legais ou regulatórios, mas a organização pode implementar alguma prática que ajude a compensar os impactos causados pelo processo ou atividade original;
  • Centrados em Processos: padrões que focam em modificar a estrutura dos processos assim como a forma de executar as atividades. Exemplo: “Process Automation” – visa diminuir o impacto ambiental de um determinado processo através da automação de determinadas atividades;
  • Centrados em Fontes: padrões que focam em como distribuir processos e atividades entre diferentes parceiros para melhorar os impactos ambientais causados. Exemplo: “Outsourcing” – quando um parceiro externo (ou a descentralização para diversos parceiros) pode executar de forma mais eficiente (do ponto de vista ecológico) um processo ou atividade.
Green BPM – Padrões
Green BPM – Padrões

Conclusão

Como reflexão final, devemos ficar atentos ao fato de que muitas vezes pode ser difícil distinguir entre uma otimização com foco ambiental real e o que se apelidou de “greenwashing”. No entanto, neste segundo caso, o foco da organização é parecer verde para atrair a simpatia dos consumidores aos seus produtos e serviços. Por conseguinte, na verdade, a empresa não está preocupada com o planeta e sim usando essas otimizações apenas como uma jogada de marketing verde. Apesar disso, ainda que as intenções não sejam totalmente puras, a implementação de práticas mais sustentáveis já traz vários benefícios.

Referências

BETZ, S., 2014, “Sustainability Aware Business Process Management using XML-Nets“. 28th Conference on Environmental Informatics – Informatics for Environmental Protection, Sustainable Development and Risk Management, pp. 691–698, Oldenburg.

BROCKE, J. VOM; SEIDEL, S.; RECKER, J., 2012, Green Business Process Management: Towards the Sustainable Enterprise. 2012 edition ed. Heidelberg ; New York, Springer.

GOODLAND, R., 2002, “Sustainability: Human, Social, Economic and Environmental” John Wiley and Sons

HOUY, C.; REITER, M.; FETTKE, P.; et al., 2012, “Advancing Business Process Technology for Humanity: Opportunities and Challenges of Green BPM for Sustainable Business Activities”, In: Brocke, J. vom, Seidel, S., Recker, J. (eds), Green Business Process Management: Towards the Sustainable Enterprise,  Springer Berlin Heidelberg, pp. 75–92.

ISO/TMB, 2010, ISO 26000:2010 Guidance on Social Sustainability. 1 ed. Geneva, Switzerland,

NOWAK, A.; LEYMANN, F.; SCHLEICHER, D.; et al., 2011, “Green Business Process Patterns”. In: Proceedings of the 18th Conference on Pattern Languages of Programs, pp. 6:1–6:10, New York, NY, USA.

OPITZ, N.; KRÜP, H.; KOLPE, L. M., 2014, “Environmentally sustainable business process management – developing a green BPM readiness model”. Pacific Asia Conference on Information Systems (PACIS), Chengdu, China.

SEIDEL, S.; RECKER, J.; BROCKE, J. VOM, 2012, “Green Business Process Management”, In: Brocke, J. vom, Seidel, S., Recker, J. (eds), Green Business Process Management: Towards the Sustainable Enterprise, Springer Berlin Heidelberg, pp. 3–13.

STOLZE, C.; SEMMLER, G.; THOMAS, O., 2012, “Sustainability in Business Process Management Research – a Literature Review”. In: Proceedings of Americas Conference on Information Systems (AMCIS), Seattle, EUA.

UN WORLD COMMISSION ON ENVIRONMENT AND DEVELOPMENT, 1987, Report of the World Commission on Environment and Development: Our Common Future. 1st edition ed. Oxford ; New York, Oxford University Press.